No aniversário de Miguel Arraes, ícone da política brasileira, seu neto, Antônio Campos, lança uma biografia reveladora: "Arraes, o Povo no Poder" na qual traça a jornada de lutas contra Desigualdades Sociais e Discriminações ao Nordeste do avó. Confira abaixo:
Estou escrevendo uma biografia sobre a sua vida, Arraes, o Povo no Poder. Começa com sua vida no exílio, na Argélia, tem um flashback na sua infância no Crato e a grande influência de sua mãe Dona Benigna e o seu revolucionário governo em Pernambuco, em 1963.Sempre que atacada, defendi a minha família. As vezes não consigo entender alguns designos da política e do jogo do poder.
Fui o coordenador jurídico da
defesa dos precatórios, tendo acompanhado o meu avô, em sua defesa.
Muitos que o atacaram, tiveram vez e voz nos recentes governos do PSB,
em Pernambuco. Muitos se beneficiaram do seu nome e seu legado, sem ter
nada haver com sua história, tendo inclusive o atacado de forma vil.
Incrível.
Ele não saiu do Caso Precatórios pela janela da
prescrição, como alguns quiseram afirmar. Tinha um habeas corpus
transitado em julgado que o inocentava no mérito, com parecer da grande
jurista Ada Pellegrini Grinover pela validade do habeas corpus, que foi
encomendado por mim.
Fui seu advogado no processo funcional
de Anistia, onde pediu os reassentamentos das suas anotações funcionais,
tendo sido um leading case na Comissão de Anistia. Tive a valorosa
colaboração profissional da, à época, advogada Ana Arraes, minha mãe e
filha de Arraes. Documentei tal processo em livro.
Fui
presidente 10 anos do Instituto Miguel Arraes, a convite de Magdalena
Arraes, quando teve pleno funcionamento, inclusive com a digitalização
de grande parte de seu acervo, em convênio com a Fundação João
Mangabeira. Tal acervo encontra-se na Fundação Joaquim Nabuco,
devidamente preservado, levado para lá, durante a minha gestão, na
presidência da Fundaj, quando venderam a casa do meu avô, o que nunca
concordei. Nessa época, foi concedido ao mesmo a honraria de Herói da
Pátria, constando o seu nome no Livro dos Hérois Brasileiros. A sanção
da lei foi feita pelo Presidente interino, o Ministro Dias Toffoli do
Supremo, tendo na ocasião, tido a honra de ter feito o discurso, em
homenagem a Arraes.
Fiz uma representação perante o
Ministério Público Federal sobre Arraes e a Operação Condor, que foi
objeto de despacho para fazer constar o depoimento de Arraes, perante o
Congresso Nacional, na Comissão que investigou a Operação Condor,
presidida pelo Deputado Miro Teixeira, na Comissão Internacional que
ainda investiga até hoje tal assunto. Arraes foi uma testemunha
contemporânea da Operação Condor, tendo sido avisado para dar
conhecimento a vários companheiros sobre a iminente ameaça, o que fez e
quase foi vítima dela. Recentemente, peritos confirmaram que o poeta
chileno Pablo Neruda foi envenenado e foi uma das vítimas da Operação
Condor. Também fiz um livro para documentar tal assunto.
Foi
presidente do PSB, legado que deixou para um grupo político, que nem
sempre seguiu seus ideais. Fui um dos injustiçados pelo PSB, que me
traiu de forma vil e que pretende de novo me combater, em 2024. Estarei
preparado. Certamente deveria ter sido candidato por outro partido, à
época, mas acreditei de boa-fé do que me prometeram. Estou exilado
noutro partido, mas não perco a fidelidade aos ideais de Arraes. Servi
na Fundaj ao Estado Brasileiro e não a momentâneos governos. Ela foi
preservada em uma época difícil de nosso país.
Arraes foi um
homem inconformado com as desigualdades sociais e um dos maiores
conhecedores do Nordeste. Foi o maior criador de projetos sociais da
história dessa região. O Bolsa Família, em parte, se inspirou no Chapéu
de Palha, um programa criado por ele.
Uma das suas grandes características era a sua coerência política. Até os seus maiores desafetos políticos, o respeitavam por isso. Antônio Carlos Magalhães o chamava de ‘’meu inimigo cordial’’. Defendia um projeto nítido de nação e que o Brasil não poderia se tornar um território, perdendo a sua alma.
O
meu testemunho é que aprendi muito com ele. Tenho uma grande saudade
dele e da forma respeitosa e carinhosa, do seu jeito, que me tratava.
Fui eu que o tirei da cama, quando foi para o hospital e não voltou.
Estavam no quarto dona Magdalena, dois médicos e minha mãe. Lembro da
frase que ele me disse, mesmo debilitado, que nunca esqueci.
Tive a honra de advogar para ele assuntos relevantes, ante a confiança que sempre teve em mim.
Viva Arraes, guerreiro e herói do povo brasileiro, pois sempre foi fiel ao povo brasileiro.
Antônio Campos.
Advogado e escritor.
Recife/Olinda, 15 de dezembro de 2023.
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